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Poucas palavras, pequenas compreensões e vários sentires.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Entrevista à Sartre – Simone de Beauvoir (trechos)



S. de B. – Houve uma época em que você conheceu cristãos, de uma maneira muito íntima: no campo de prisioneiros. Seu melhor amigo era até um padre.
J. -P. S. – Sim, lá eu convivia em grande parte, essencialmente com padres. Mas eles representavam naquela ocasião, no campo de prisioneiros, os únicos intelectuais com quem eu tinha contato. Nem todos, mais pelo menos meu amigo, o jesuíta Feller, e o padre que depois deixou as ordens, e se casou...
S. de B. – O abade Leroy?
J. -P. S. – O abade. Eles representavam intelectuais, pessoas que pensavam sobre as mesmas coisas que eu, nem sempre o que eu pensava, mas era já um ponto em comum questionar as mesmas coisas. De maneira que eu podia falar muito com o abade Leroy, ou o abade Perrin, ou Feller o jesuíta, do que com camponeses prisioneiros.
S. de B. – E seu ateísmo não os incomodava?
J. -P. S. – Parece que não. O abade Leroy me disse, muito espontaneamente, que não aceitaria um lugar no paraíso se me fosse recusado um lugar. Mas ele pensava precisamente que esse lugar não me seria recusado, e que eu aprenderia a conhecer Deus, ou durante minha vida ou depois de minha morte. Portanto, ele considerava isso como um limite entre nós que desaparecia. Uma separação que desaparecia.

Simone de Beauvoir – A Cerimônia do Adeus, 1974.